Magnólia

Magnólia

Divirta-se.

sábado, 2 de julho de 2011

trama do tempo

Sou atriz.

Forte, destemida, fraca, oprimida, nada constante. Permaneço ilesa ao tempo, não o percebo, sei que se olhar em volta verei os cacos. É insano querer tão pouco, sigo em busca de um pouco mais.
Estou aqui e sei que dependerá de mim, a cena em que triunfante, ergo o troféu; o roteiro decidi não seguir, não me importa o que está no papel, sou mais do que as linhas que escrevo aqui, sou mais do que lítio, cigarro e mel.
 Franca, falsa, submissa, nua em um bordel. O que se dirá é que fui feliz, que me viram derramar lágrimas de felicidade, desfeita de toda vaidade que um ser humano pode ter. Atriz quando chora, chora puramente, assim como no poema em diz que o poeta finge a dor que de fato, sente.
Nada aqui me pertence, o cenário feito as pressas ou desfeito com muita pressa, nada que hoje eu possa tocar com as mãos ou restaurar o que foi arranhado, perdido.
Sou atriz, atemporal, seguindo minha intuição, fazendo dos dias de chuva o contexto ideal para colocar meu filme em cartaz; filme que antes de tudo, carrega a minha voz, não é mudo afinal.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Patatí e Patatá

Os desejos do outro. Atender as necessidades que batem à porta alheia para ter a satisfação de agradar alguém, convém?
É confuso ser do outro. O desejo de ser inteiro nunca nos abandona. Dividir a cama pode ser pesadelo ou glória, dias de paraíso vem e vão, muitas vezes em intervalos longos, intermináveis.
O outro espera, ou assim pensamos. Nunca há nada definido e se agradar é preciso, a dificuldade é saber até que ponto, ou acima do quê.
Faz mal para mim o que faz bem para você?
Os desejos do outro podem nos tornar escravos, acomodados quando se é esperado pouco, ou sufocante, quando sentimos que não somos nem parecidos com o que se espera de nós.
Não há como fingir muito tempo, ficar prisioneiro da idealização de terceiros usando uma máscara que na maioria das vezes apenas convém. Mas e ai, estamos aqui para isso?
Terríveis também são os enganos, aqueles que por simples dedução, agarramos como verdade absoluta. A ilusão às vezes cai como uma luva, mas ela é feita de areia, e qualquer um pode entender o porque.
Nossas falhas, as que pelo menos sabemos que carregamos, nos pesam o dobro quando temos assim tão perto os olhos do outro a vigiar (Se ele me achar feio, ou chato, ou bobo, serei ainda mais feio, ou chato ou bobo). Passamos a ter certeza de que o outro vê o que antes apenas nós víamos e que ele nos aponta, nos tortura com tantas informações íntimas. Assumimos o papel de vitimas e nos encolhemos dentro da roupa; aí não dá outra, ficamos parecendo palhaços de circo que têm suas calças presas por vergonhosos e frágeis suspensórios. E tudo para que?
Entreter o outro. Deixar de ser você.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

um romance sobre São Paulo

Morar em São Paulo é diferente de viver em São Paulo.
Morar é apenas estar fisicamente em determinado lugar e por questões variadas. Para viver há alguns requisitos. Em Sampa é preciso, antes de tudo, ter gosto super refinado, pois só assim é possivel gostar de tudo um pouco; do que é brega, do que é cult, e do que não é porcaria nenhuma, sendo apenas indispensável.

Nada passa despercebido para quem vive em São Paulo. O ideal seria ter as tais vidas de gato e assim cair e levantar em todos os becos e avenidas, morrer de tédio no trânsito, ressuscitar no sambão da Freguesia.
Paladar apurado é indispensável; em São Paulo , vive bem quem distingue nuances de sabor até no pingado. Quem reconhece a importância do queijo puxado num misto-quente, vive ainda melhor quem faz garimpo/comida e sai por ai dobrando esquinas em busca de cumbucas fumegantes. Feliz de quem gosta de sashimi, inclusive.
Os notívagos vivem em estado e carpe diem quando saem de suas tocas para viver a noite de sampa, os de coração aberto, os sem preconceitos, os tolerantes: estes sim encontram teto nos milhares de bares e seus desdobramentos. Do rap ao tamborim, do rabo-de-galo ao dry martini, todos convivem, e vivem melhor na capital paulistana.
São Paulo abraça e espreme, a maioria diz que sim, cabem; os que só moram, vivem apenas de metades deixando um espaçozinho para quem quer correr atrás.
Na padoca, num sebo/livraria, num boteco, na Vila, seja em frente ao MASP ou ao Poupatempo, dá-se sempre um jeito de suspirar e admirar. Depois há sempre quem esbraveje, mas no final, quem desdenha quer comprar.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Assumo, e não nego.

Todas as pessoas são absolutamente ridículas. Digo isso, mas não como um discurso agressivo, essa afirmação pode fazer você dar risada.
A insistente tentativa de ser moralmente correto, fisicamente impecável, altamente discreto, polido, culto, descolado, poético, enfim, tudo isso é absurdamente irritante. As pessoas deveriam assumir seu estado frágil, sua tendência ao ridículo.
De perto ninguém é normal, e isso não é só titulo de livro, não há normalidade, apenas por que não existe base com o que comparar o que seria normal ou não.
Cada um é o resultado de algumas combinações. Simples assim. O que faz de mim, eu, vem de tudo que já vivi, já ouvi, já senti, segui, de tudo que encontrei até aqui. E no meio dessa parafernália toda estão os pequenos deslizes, putas gafes, imensas falhas, frases de merda, atitudes idem. Não podemos excluir o que é feio para simplesmente parecer alguém mais bonito.
Mulheres elegantes, muitas vezes, no conforto de seus quartos, roem a unha do pé. O cara bacana que você encontra todo bonitão na balada pode sim estar usando aquela cueca, sem lavar, pela segunda vez. O moralista, tadinho, assiste seus pornôs quando sua esposa vai às compras, ou até mesmo o inverso. Senhoras pudicas, com saias até o joelho, reviram lixo alheio em busca do que poderia ser um segredo. E isso ainda não é nada perto do que cada pessoa pode fazer. Ser vitima para ser amado, bancar o bacana em troca de admiração, criar uma imagem tão elaborada quanto o ator vencedor do Oscar, por melhor atuação. Não há limite e nada poderia ser mais humano.
Quem é sujeito dormindo ao teu lado? E o que há de errado em não saber?
Patéticos, ridículos, curiosos, estranhos, há sempre uma categoria a qual pertencer. E se eu, pessoa absolutamente ridícula, consigo rir das minhas neuras e vontades descabidas, acredito que assim você também pode fazer. Desencane. Let it be.

*foto tirada por mim mesma, para passar a imagem de uma mulher bonita, segura e confiante.
ps: não há nada mais ridiculo do que fazer pose para você mesmo, mas e daí?
ps2: fico feliz quando você gosta do meu texto, se deixar um comentário então, meu ego vai às alturas.

domingo, 26 de dezembro de 2010

prometo começar a malhar.

Não há nada mais arriscado para saúde física e mental de uma pessoa do que as listas de final de ano. Aquelas em que nos colocamos diante de intermináveis propostas de mudanças, como cortar de vez doce em busca do equilíbrio individuo/balança até livrar-se de amargas culpas.


O ser humano em sua trajetória milenar não se cansa da tentativa de renovar, superar os erros, seguir para um futuro promissor e de preferência, com a quantidade de porres reduzidos e, melhor ainda, ressaca moral zero. Tentar melhorar é sim o primeiro passo, mas o abismo pode estar logo ali, como uma linha tênue entre o sucesso e uma terrível depressão, daquelas em nos massacramos  por não ter dado conta do recado.

Vamos pegar leve. Quem sabe este não será o ano em que tentar ser bacana dê certo apenas por sermos honestos e admitirmos que possa ser que sim, funcione; ou não, e quando não, tudo bem. Neste compasso, vá em frente com fé, sempre haverá canalhices alheias, vez ou outra uma só nossa; exclusiva.

Faça o melhor com o seu erro, seja não o repetindo ou dando aos outros o exemplo, e assim, ano após ano, envelhece esse sujeito que levou a vida um dia após o outro, abrindo milhares de novos caminhos em meio aos contratempos.
Deixe a nova lista para coisas como morango, e champagne.

domingo, 17 de outubro de 2010

voraz

Seu medo de cravar os pés no chão é tanto, que mesmo com as asas em frangalhos continua tentando subir. Ou isso, ou uma obstinação cega e ingênua, já que não se pode simplesmente admitir que ela seja uma idiota e fim; talvez ela saiba antes de saber. A gana embarga sua voz, cria frases com brutalidade e peso, com fé cega de quem não precisa pensar mais a respeito e vai vomitando as palavras que sua voz já decorou.
Há uma grande chance de que as coisas dêem certo apenas por querer que seja assim, seus tropeços sempre a levaram a objetivos almejados, justificando os meios para seus fins.
Toda a culpa que sente talvez a faça ausente dos lugares em que deveria estar; já se estabeleceu que fosse seguindo a corrente, num transcorrer de dias e meses sem muito pontuar. Pelo menos é o que se pode ver. Não há nada mítico ou misterioso, nem mesmo uma postura pensada, resultante de algum estudo ou crença.
Ela é o que é, e nem suspeita.
 
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