Ele é um cara gente fina, desses que não perde a piada nem o amigo.
Diz que na vida, nada é por acaso, mas que noventa e nove por cento das coisas que lhe acontecem, são totalmente inesperadas. Ele não adotou nenhuma filosofia. Simplesmente deixou a música tocar. Ele aperta o play várias vezes seguidas.
No século passado, talvez seu comportamento o comprometesse, dado aos espasmos freqüentes que o levam a querer largar tudo e a todos. Ele tem família, mas não quer casa própria não.
Em uma dessas nossas conversas, ele cuspiu no prato, criticou o sistema, lavou as mãos. E quando já estava tudo certo, que a morte da esperança era agora fato consumado, ele começou a cantar um refrão, desses meio tortos e desconexos, clichês. Cena que daria um bom filme. Um finalzinho de filme, em que o telespectador acaba acreditando no personagem e na mística que os uniu. Inspiração pra uma vida inteira.
Ele é tão comum em seus traços que se o mundo não fosse tão sufocante, eu não o teria notado.
Ele não aprende nada e acaba me ensinando tudo, sem pressa, sem sugestão.
Ele me deu o gosto por ter opinião. Ele faz uma puta falta.
Uma sorte e tanta e gente ter se cruzado, o meu maior medo sempre foi viver sem significado, adormecer sem amparo e acordar cedo sem motivo. O meu medo maior era não ver diferença entre preço e o valor.
Hoje, quase sem contato, lembrar dele é nostálgico.
Mas como um palavrão que escapa sem censura, vem rápido uma lembrança, sem ter angústia, sem ser saudosa.
Com sotaque carioca, ouço-o dizendo baixinho, merda!
Divirta-se.
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