Magnólia: Dipirona 500mg;

Divirta-se.

terça-feira, 13 de março de 2007

Dipirona 500mg;

As mulheres como eu, costumam se perder entre as coisas que acreditam e as coisas que detestam fazer. Mas nós fazemos muitas coisas detestáveis. E criamos muitos conflitos entre nossos ideais e a realidade hipócrita do cotidiano. Mesmo quando não queremos ou desejamos tais conflitos.
As mulheres como eu, na verdade não são nem um pouco iguais a mim, respeitando a individualidade de cada uma de nós e abominando a mania tosca de classificar gênero e pessoas. Eu sou. E nada mais que isso. Eu existo e isso me causa uma tremenda dor de cabeça. E sim, sou mulher. Mais dor de cabeça.
Aprendo que de nada me vale desfilar por aí, com os dentes cerrados, distribuindo esporros diante da burrice e da canalhice dos que convivem comigo em sociedade. Na verdade, desejar a morte de todos vai contra os meus princípios, e a minha maior fonte de prazer: observar pessoas, vivas, de preferência.
Mas essa coisa estúpida de ter de viver em sociedade enquanto empurramos o lixo para debaixo do nosso tapete, só nos torna mais imundos e desgastados. Além de patéticos. Assim como eu e você e o resto da humanidade. Neste caso sendo eu, mulher, dona de uma bagagem imensa de feições, expressões, amores, sonhos e rosas vermelhas espalhadas pelos anos de minha vida, passado, presente e futuro. Eu, mulherzinha, que já: namorou no portão, já tomou fora, já saiu para dançar de vestido. Eu que já, beijei pela primeira vez, já me despedi, já rompi namoro, já pari, já mandei a merda. Eu que já li Paulo Coelho, já mandei a merda, já pintei as unhas, roí as unhas. Paguei caro em shampoo, comprei calcinha nova, remendei a velha. Eu, mulher que já tomou todas, já quis ser santa, freira, prostituta. Eu, magnólia, que já deitei no colo na minha avó, e chorei quando ela morreu e me deixou com uma mãe maluca; eu, mulher, que sofro com TPM, que tenho medo de estuprador, que já esqueci a natação da minha filha e não mandei shampoo. Eu que já fui a outra, e já fui traída. Eu detesto, muito, muito mesmo ter que empurrar tanto lixo para debaixo deste tapete imundo e com a cara mais lavada do planeta.
Só me resta mesmo, dor de cabeça.

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