Estava sempre frio, os olhos ficavam lacrimejando e os narizes vermelhos.
Fungávamos no ritmo um do outro, uma vez era eu, na seqüência ele, perfeita harmonia esquisita.
Os dias começavam muito rápidos e num instante ínfimo já era noite.
O tempo não se dava por inteiro, parecia estar de saco cheio, cobrando, explodindo em horas de partida.
Acabou o horário do café. Tenho que ir por que me esperam. Hora de ir pra falar no celular, hora de buscar, hora de ir embora desta vida de estar perto. Mas não tem hora pra abolir o pensamento, por bem ou por mal, fica lá, latejando feito goteira em casa velha, fica enchendo mil baldes e bacias, e é claro, a água é fria pra cacete.
Quando vejo por acaso todas as cenas deste cenário único, quando vejo que não é pouco e que na verdade é muito, quando eu me sento e vejo esta coleção de paredes envelhecidas, não há nada mais em que eu pense, caso esteja em qualquer lugar do mundo.
Então minhas intermináveis e saudosas reflexões se agrupam, fazem poesia; criam assunto, dão sempre em merda.
E eu tento, tento pensar positivo, ensaio até mesmo um ‘positivo’ com os dedos, enxergo a forma, esqueço o contexto.
As palavras têm poder. Então digo bem alto, frente ao espelho, digo fazendo poses e expressões faciais sinistras. Visualizo e então... Começo a sentir, vai dar certo; vai dar, tem que dar; por favor, dê certo.
E dá sim, realmente as coisas tem funcionado, tá bem bacana, tá fluindo.
As nuvens me dão uma carona sobre a cidade, vento fresco, nenhum sinal de trovão a vista. Chacoalha um pouco, treme, esfria a barriga, e se tivesse um sonzinho neste lúdico meio de transporte, adivinha qual seria?
Chega de alucinações. Chega de pensar cabeça estúpida! Há afazeres, as contas não se pagam sozinhas, a comida não alimenta sem a ingestão, e mundo não para nem um segundo.
Me esqueço da existência de mais pessoas, esqueço a tabuada que na verdade nem sei se aprendi, os países da Europa, os tratados, o Bin Laden.
Esqueço tudo, isto não é novidade.
Eu só sei ser inteira, eu não preciso de uma outra metade. Eu só sei ser do avesso e minha verdade é sempre nua.
Vamos fungar nossos narizes mandões e botar rédea nesta coisa de tempo. Vamos viver no plural que nossos baldes já estão cheios.
Vamos abstrair os meios e chegar logo ao fim deste nosso novo e delicioso começo.
Divirta-se.
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