CLEO

Oh querida, foi fantástico.
O cenário, as vozes, os vestidos. Dancei sobre o salto cor- de- rosa e nas unhas: ah, vermelho vivo.
Entre rodopios e sorrisos, seguiam olhos de fascínio e olhares de soslaio. Ora, como não despertar sensações se estávamos todos em busca de sensações? O salão repleto de um colorido aguçado. Os pés comprimidos em sapatos delicados contavam as horas, no entanto, de nada reclamavam, indo de um canto a outro, ora por impulso, ora sob um andar categoricamente planejado.
Querida, eu adoro estas ocasiões. Não pelo contexto de pratos elaborados e mordomias sofisticadas, não! Pelo contrário, adoro a ambição brilhando nos mais diversos olhares, para que no fim não sejamos nada mais que nos mesmos, complexos ou vazios, mesquinhos ou generosos. Somos nós ali, pomposos, exibidos, desejosos de algo mais, é sempre por algo mais. Descobertas acontecem nestas horas. Amargas ou doces, cumprindo o ritual diário que é viver com amargura ou docemente.
Oh minha querida, queria tanto tua companhia, teu lado humano, tua risada granfina. Não sei como irão entender minhas agonias, mas não duvido que em diversas horas você também busque explicações desvairadas para cada detalhe que a cerca. Eu não saberia viver de outro jeito.
My dear, veja só como é divertido, cabelos cobertos por laquê, apliques, cílios de plástico, sinais trocados, armadilhas. Como é divertido, danças, olhares, espelhos, maquiagem, labirinto. Doses e doses, gelos titilando, champagne.
Todas as delicias da carne, todos os beijos com vontade e as mãos sob a função de cobrir as bocas e sussurros. Será que todos maldosos?
Ah! Que sejam!
Em um momento querida, eu desejei secretamente que estivesse ali, para que também compartilhasse minhas alegrias e maldades, meus delírios e a verdade, que mesmo em traje de gala, permanece muito simples.

Beijos querida.