Hoje pelo caminho vi dois pássaros mortos.
Um ainda filhote, quase sem penas, estava com as asas abertas, esmagado ao chão em frente à igreja.
O segundo, uma ave maior estava na beira da calçada, perto da rua, mesma posição, asas abertas, peito contra o chão. Este ainda sentiu por um tempo o gosto de poder voar sobre a cidade, talvez tenha estado em outros lugares, talvez não. Já o filhote parece que morreu ao tentar voar pela primeira vez, mas ainda sem as penas.
Quando já havia esquecido esta história de pássaros mortos, entrou pela minha janela um bem vivo: um pardal. Pardais não gostam de gaiolas, são naturalmente curiosos e livres.
Assim que entrou na casa, logo se perdeu, voou pela sala, cozinha e sobre as escadas. Ao ver seu desespero fui logo abrindo o restante das janelas e ele por medo, fugiu da minha ajuda, tentou atravessar a que estava fechada, batendo com a cabeça por diversas vezes seguidas; via lá fora as árvores balançando seus galhos e o céu azul e familiar fazendo o convite, mas o vidro era duro e imponente, separando por completo a ave do resto do mundo.
Deixei as janelas abertas para que ele, em algum momento escapasse.
Não vi quando isso aconteceu. O alívio de não tê-lo por perto me fez esquecer como foi o desfecho da história.
Só agora ao ver alguns pardais brincando lá fora é que pensei nos três pássaros do meu dia, dois mortos e um perdido, cada um deles com sua dose de sorte e azar.
Eu não sou passarinho, embora me lembre de já ter morrido quando pequena e esmagada algumas vezes depois de adulta, sendo que em minha sobrevida tive a sensação de estar um pouco perdida, batendo com a cabeça em vidraças alheias.
Não sou boba para deixar que me prendam em alguma gaiola. Liberdade para mim é um ninho estável sob o céu estrelado ou tempestade ruidosa.
A vida então seguirá com suas pequenas mortes diárias e as penas por crescer.
Sorte de quem tem ninho, não gaiola.
Divirta-se.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
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