nãosanta

Não bebo, não fumo, não me convide para a gandaia. Minha saia cobre os joelhos, e quando ando pela rua, olho diretamente para chão. Eu não sou daquelas. Eu sou aquela, que já foi.
Agora não, estou com uma leve dor de cabeça e também, papai não deixaria, nem por um milhão. Eu não sou disso, eu tenho muitos pudores. Faço apenas favores ternos e doces. Empresto uma xicrinha de açúcar, passo um café quente, passo a roupa.
Eu não bebo, eu não fumo, não me confundam com as madalenas. Eu sou moça pequena, que sorri com vergonha e que fica vermelha diante da canalhice alheia e verborragias despudoradas.
Sou princesinha triste, a espera do príncipe narcisista. Farei casaquinhos de tricô e singelas compotas de frutas enquanto ele desbravará novos territórios a fim de tornar-se o rei. Mas posso ser também a mulher do operário e passar noites em claro cerzindo velhas camisas e preparando marmitas gordurosas. Sou moça fina e talentosa, abnegada como uma freira.
Eu não bebo, eu não fumo, não olhe para minha bunda com estes olhos gulosos. Eu sou feita de puro algodão e para muitas coisas, ainda fecho os olhos. Escapam-me leves suspiros, porém de resto tenho absoluto controle, não desejo mais do que um marido e um fogão branco, esmaltado (único capricho, juro por mamãe), que tenha um forno bem comprido para caber muitos pães, tortas e assados.
Eu não bebo, eu não fumo, não me rele, não me toque. Por mais que eu não provoque certos gestos e atitudes, estes olhos de olhar soturno são da mais bela e pura, vaidade.