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Não faltou quem me quisesse a qualquer custo. Ligação de madrugada. Não faltou piscina, marquinha de sol, estrada. Não faltaram dias de chuva, temperatura maior que quarenta.
Não faltou literatura, de Machado de Assis à Flaubert. Não me faltaram amores inventados, amassos; paixões secretas escancaradas para todo mundo ver. Não me faltou ser sacana, piranha, maluca. Não faltou amor verdadeiro, amor pelo avesso, amor desonesto.
Não me faltou um sonho inteiro e outros, que deixei morrer de tédio. Não me faltaram ruas cheias de charme, tatuagem, cerveja gelada de muitos bares, finais de semana sem fim. Não faltaram os que tiveram pena e outros querendo estar na minha pele, cobiçando o que era meu e quem eu era.
Não me faltou discurso paterno, desavenças maternas, crise de identidade. Não me faltou saber quem sou quando testaram minha verdade.
Não me faltaram bons amigos, inimigos sorridentes; não me faltaram bons dentes quando minha vontade foi morder. Não me faltou ver crescer dentro de mim um filho, descobrir a força que a maternidade tem. Não me faltou ter coragem, não faltou sentir medo. Não me faltou quem quisesse algo em troca, não faltou samba, não faltou a musica que toca e faz a gente querer morrer. Não faltou dançar a noite toda, não faltou o beijo na boca de uma pessoa sem nome. Não faltou a fome, a vontade de chantilly. Não me faltou largar tudo e recomeçar, não me faltou fracassar, não me faltou comemorar.
E que me resta agora, além de seguir em frente, é sorrir.