Pés que voam.

Sofro de sérias conseqüências resultantes de uma juventude patética e fútil. Nada de grandes novidades, bebi muito, transei muito, dancei e dancei. Sempre tive a sensação de que um dia algo de bom aconteceria e assim explorava todas as formas que definiriam uma oportunidade, novas pessoas, novos lugares e a droga de sempre.
Várias coisas boas me acontecem todos os dias. Tenho uma família do bem. Ninguém aqui mata ou rouba, exceto minha mãe que insiste com suas neuras absurdas capazes de roubar meu humor e aniquilar,como um carro bomba, meu otimismo em relação à melhora da espécie humana. Tudo isso dentro de um processo bastante familiar: ”Eu sou sua mãe eu tenho o direito”.
Mas até aí, Freud explica, e pra ser mais exato: é a vida. Enfim, tenho muita sorte. Meu namorado me ama e adora meu jeito estranho de esvaziar muito quando tenho tudo que me preenche. Meu peso esta ok, minhas unhas estão bem feitas e na semana passada eu menstruei exatamente no dia exato. Eu não sou nada que assuste, assim, logo de cara, alguém.

Não queria assumir isso, mas, acho que sou normal.
Essa mesmice poderia consumir meio mundo e acredito ser o suficiente para me deixar de mau humor. Eu percebo coisas nas pessoas que ninguém vê. Meu mundo esta coberto de legendas, setas e sinais que eu vejo e sigo, mas não faço a menor idéia de onde vai dar, se eu vou dar de cara no muro ou ficar a vida toda sobre ele. Em dias de glória, consigo definir facilmente a diferença entre as expressões: “eu te amo” e “quero te comer”.
Identifico sinais iniciais de rotina em um relacionamento. Mando bem na cama, o que não me impede de dividir tarefas.
Gosto de ser simpática. Sincera. Só não entendo por que diabos nada que eu quero muito e tenho quando quero, não seja capaz de me satisfazer.
Eu quero sempre mais. Com certeza isso se deve ao abuso da liberdade na juventude: eu era minha, só minha e agora não paro de me oferecer pro mundo.