Exposição;

Ouvi dizer que as coisas não são o que parecem.
As coisas se parecem com rompimentos, términos e game over.
Eu me conheço e agora tenho base teórica pra cada contexto, cada meio e cada justificativa que infelizmente nada justifica. Eu me conheço.
O mundo em caos, o mundo permanece castigando e roubando vidas.
Os pais perdem seus filhos, as casas ficam cada vez mais vazias.
Sinto muito, mais ainda me preocupo muito mais com o meu umbigo. Bem que eu queria aproveitar o exemplo de Angelina, e rumo a Camboja seguiria sem medo, repleta de suprimentos e amor materno para distribuir. Se eu pudesse não estaria aqui pensando no sapato certo para a boca da calça; devorando sanduíches de queijo, desenvolvendo anseios que não me alimentam. Mas não me movo sem que me peçam e nada digo sem que me perguntem.
No meu quarto os livros esperam; os rascunhos esperam; os retratos mudos contemplam a minha espera.
Eu não quero sorrir para o porteiro, a quem muitas vezes mandei pedaços de pizza pelo elevador. Ele sabe que hoje o meu sorriso nada significa e que uma gentileza assim, qualquer um faria.
Hoje eu quero dar minha cara a tapa.
Os pais perdem seus filhos e a minha filha está muito bem, obrigada. Não é grosseria. Talvez seja a tradução da vontade de não pedir desculpas, da vontade de ser extatamente aquilo que tenho de mais simples.
Eu quero começar a falar o ninguém quer ouvir. Dizer que a minha opinião tem prazo de validade e que muitas vezes não vale o que prega.
Eu quero terminar de contar à história que inventei há alguns anos, por que a cada aniversário que ela completa mais me despedaça ter que continuar contando. Como uma piada previsível, como chapeuzinho vermelho e seu lobo mal faminto. Eu não tenho mais saco.
Eu vou embora, embora isso não seja nada físico.
Eu vou me embora para Pasárgada.