meia noite de uma vida inteira;

Não há um grande amor por trás daquele sorriso, mas ela não deixou de sorrir o tempo todo. Não havia sinal de promessas fáceis, nem caminhos pra lugar nenhum.
Ela se perfumou, enfeitou a casa e abriu a porta para ele entrar. Não cozinhou nada em especial, ofereceu coca-cola sem gás.
Escova de dente nova, pasta no lugar. A toalha pendurada do jeito que os rapazes costumam pendurar, à revelia, au revoir.
Não há mais subjetividade em seu linguajar, os copos estão ali, o que dá tesão está lá.
Ele diz para que não se preocupe com conforto e acomodações de um visitante temporário. Um afeto provisório.
Ela busca uma coberta, fecha as janelas. O coração já está lacrado. Para o conforto dela.
A anfitriã diverte-se com a idéia de agradar. Um copo d’ água próximo à mão, o controle e a direção, só mesmo deste jeito é que vai funcionar, ela sabe.
“Desliga a luz amor”.
Sim, amor de chafariz. Ele diz de brincadeira, ela já sabe, por isso sorri. Deita sem dormir. Dorme sem sentir o sono que vem; vem com a pressa de suprir o intervalo entre as coisas e seus significados.
Ela agora zomba das diferenças e das dores imensas que passou a deixar de sentir. Tudo agora lembra bala de menta, que adoça, não alimenta e ainda assim faz sorrir.
Um “bom dia” completa um dia bom. Ela fica pensando em como é que se diz obrigado a um desejo tão delicado, a uma oferta tão justa.
Ela tem seus arrependimentos, alguns velhos clichês outrora herdados.
Ela tem em posse alguns dilemas, mas não está mais certa que deve os manter ali, nada mais vai se manter em canto algum.
A herança pode ser descartada, como tudo que não é desejado, como tudo que não se pede, como um sorriso que não promete.
Ele bebe o café, de supetão um beijo lhe é roubado.
Beijo na boca incentiva pois diz com todas as letras que amor de chafariz mesmo, é aquele que a gente inventa pra se divertir.
Neste caso, uma noite inteira em quartos separados.