Ele não disse nada que eu pudesse transcrever para o meu diário em letras coloridas, decoradas com corações e meiguices femininas.
Ele não me contou nada sobre seus sonhos e aspirações pessoais. Não me deu detalhes secretos sobre suas fantasias sexuais.
Não que eu precise saber quem ele realmente é.
Não que eu deseje ser quem mais o conhece, quem o melhor define.
Ele não pode ser nada que eu deseje.
Tudo o que ele pode ser está nas suas frases medianas e em seus olhos vagos.
Eu não posso ser aquela que o encanta com um sorriso singular.
Eu nunca irei despertá-lo de um sono profundo as quatro da manhã numa segunda-feira fria. Ele vai ignorar meu nome na tela cinza. Ali eu sou apenas um número barulhento.
Eu não contei a ele que meus pés nunca esquentam sozinhos, mas que sempre acordo sem as minhas meias de algodão.
Não disse nada sobre a minha mania de enfiar o rosto debaixo do chuveiro, com água bem quente, até sentir queimar, ou perder a respiração.
Não deu pra contar sobre minha pretensão em um dia ter uma centena de sapatos, um closet e uma sauna particular.
Não deu para contar sobre o filho que eu pretendo adotar aos trinta e seis, caso eu não tenha um menino pra me chutar as canelas.
Hoje eu tenho sono e muita pouca vontade.
Hoje eu diria coisas do tipo, “acabou a coca” ou “não fiz nada de bom”.
Não iria botar pra tocar a nossa música; a música de hoje não teria refrão ou melodia.
“Vá a merda, meu amor”, eu diria, já que considero essa coisa de diário uma bela porcaria.
Divirta-se.
terça-feira, 23 de maio de 2006
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