Reclamar pra quê?

Olha, até que sou gente fina.
É verdade, não se apegue demais nos contextos em que me encontra minha querida, porque fora deles, até que sou gente fina.
Ontem demorei duas horas e meia pra entender que nossa essência não pode ser modificada com atrativos do tipo: “parcele em seis vezes no cartão”.
Não, não pode, há mais moral e autenticidade em ter que rebolar bonito pra pagar, ou até mesmo não gastar quase nada e, surpreender. Nestes casos o que é que consegue tocar mais fundo o coração? Nada musical, por favor.
Eu não sei se sou assim, tão volúvel. Eu não sei se sou assim, tão sentimental, mas vai ver nossos valores já estejam tão escrachados e diluídos que não custa nada passar por chato, babaca ou deprimido pra manter intactos mais alguns ali, na reserva.
Ontem mesmo, foi um daqueles dias em que tudo acontece. Dá aquela luz na cabeça e sabe, olha só como é bonito ver tudo em seu devido lugar. Esses momentos têm de ser preservados minha filha, não é sempre que pode ver a vida de frente e não achar tudo uma verdadeira merda. Não é todo dia que o mecânico chega em 20 minutos e que a cor dos seus sonhos aparece num modelinho de lingerie dos seus sonhos. E ainda, pra valer mais a pena, você pode olhar nos olhos de quem passa, pode fazer a coisa certa e assim de repente você esta de cabeça erguida, por que afinal a vida ta boa.
Esta semana vai passar voando, e as ofertas e as parcelas vão perder um pouco a graça. Nesta semana os dias nascem mansos e pode ser até que o sol se desfaça deixando o frio bater de novo.

É difícil não criar expectativas e ansiar por dias futuros. Pode reparar, sempre que alguma coisa bacana acontece, a vontade que dá é pegar um destes tupperwares e armazenar um a um, sem data de validade, todos os bons momentos e deixa-los bem ali, ao alcance do nariz. Feliz de quem tem boa memória.

Engraçadas estas fases que vida nos proporciona, um dia, um acaso, um feriado, um segundo e gente percebe o quanto se ama. E quão importante é valorizar cada minuto, escondendo a cara feia de bunda, rejeitando a caretice, botando pra correr a preguiça maquiavélica. Bora, pra frente com um puta sorrisão, sem tragédias, sem crises existênciais.

A existência é uma benção, gente chata é um saco;