Magnólia: Não importa o que pareça.

Divirta-se.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Não importa o que pareça.

Eu gozei diversas vezes, achando graça do meu próprio umbigo.
Não tive pressa de botar a roupa, calçar os sapatos, ir embora.
O cigarro foi um luxo travesso de quem botou banca e fez cara de mulher que sabe o que faz, essa cara eu logo reconheci frente ao espelho e mais do que o espelho mostrou, enxerguei o desejo de não ser nada daquilo, vi o corpo todo do avesso, rejeitando a pele, o cheiro. No espelho, pedaços de mim.
Eu gozei diversas vezes o gozo de quem finge, e não só o gozo, finge vida.
Agora me resta apenas o vômito que antes fora reprimido e voltou tosco e envergonhado. Eu tenho nojo dos tantos não-significados e de todos os olhos famintos que pousaram sobre o meu ombro e o meu gosto. Tenho aversão dos dedos e dos dentes, meus dedos e meus dentes.
Tardes inteiras dispersas, domingos que longe de qualquer idéia de domingo, eram recheados de vento e poeira, poeira de mim mesmo.
Eu fui o meu transgressor, meu bandido, minha própria droga libertária. Fui o resto de tudo que poderia vir a ser, um produto que promete suprir e não satifaz nunca. Eu fui, e hoje coleciono vestígios.
Não quero,nem vou fingir dor de quem quer voltar atrás pra qualquer tentativa de conserto. Recuso a atitude nostálgica de quem se perde nessas vãs tentativas.
O vômito vem como se alguém me dissesse que é só assim pra passar, que não tem erro e que tem colo pra deitar depois.
Eu fui e ainda sou a mulher do espelho, mas o que me salva e perdoa é que além da mulher, existe a menina.
A gente brinca de ser uma só, deixamos em segredo nossos medos e buscamos mistério para onde antes era solidão.
Ela não tem mais nojo de mim e nem eu vergonha de que ela exista, espero que ela fique e vá comigo, toda vida.

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