Eu morei um bom tempo na cidade dos pássaros.
Onde a única avenida era palco dos conflitos amorosos, dos encontros casuais e das grifes e as pessoas da moda.
Todo e qualquer diálogo era travado seguindo os princípios pitorescos de cidade pequena e de pessoas pequenas. Eu era o meu centro e meu mundo, também muito pequeno, mas imensamente meu. Decretava guerras e feriados, fazia alarde e morria sozinha na minha praia de cimento. Mas sempre houve muitas vidas pra eu viver e muitas propostas pra aceitar.
Eu tinha 13 anos e muitos pseudo-amigos. Depois disso, eu tinha mais alguns anos e amigos de verdade. Uns altruístas e espertos, outros sem vocação para esperteza, mas muito legais, que me apresentavam diversões supérfluas e totalmente necessárias para pessoas como eu. Eu tinha 15 anos e estava solta na vida, limitada apenas pelos poucos quarteirões da cidade e às 24 horas do dia.
Eu me lembro das crises de risos que embarcávamos (eu e minhas amigas lunáticas e irresponsáveis) nas tardes de domingo e das expectativas que aqueles risos geravam sobre o que a vida nos prometia, o que não tinha nada a ver com submissão, que não tinha nada a ver com a realidade de nossas condições safadas.
Na cidade dos pássaros nós cantávamos de galo pra cima de todos, o que parecia ser totalmente certo pra se fazer quando se é jovem e apenas nossos pais são frustados e frustantes. Foi no interior do planeta que nós crescemos achando que não havia limite pra crescer.
Mesmo que agora tudo pareça fantasia da minha cabeça caipira eu sei que a cada madrugada folgada na calçada da rua vazia, nós todos acompanhávamos, entre sorrisos e abraços, a existência sublime de cada um.
Na cidadezinha medíocre de grandes progressos moveleiros ouvia-se a música atrasada pela distância das capitais, vestia-se a coleção passada das grandes marcas, alugava-se vídeos de outros carnavais. Mas era bom. Era ótimo e no fundo nós estávamos em paz junto aos passarinhos cantantes e as lojas que somente no Natal fechavam as 10 da noite.
Divirta-se.
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