O PETER PAN QUER COLAR

Magnólia se permite um trago após o almoço e reparte seu tempo entre uma conversa e outra com seus amigos da agência.
Eles compraram álbuns de figurinhas da copa, e estão super felizes com as figuras que não se repetem. O tio da banca prometeu as cotas de todos os primeiros lotes, estratégicamente, isso garante a variedade dos tão desejados adesivos metálicos. Euforia geral entre os campeões da maturidade.
Ela agora se pergunta se eles ainda são virgens.
Mas não são, e há quem os queira, e quem sofra pela demora da ligação deles. Elas não sabem que os álbuns exigem tempo e concentração para serem completados, e ainda para maior diversão da garotada, existem as partidas de “bafo”. Disputadíssimas.
Não há nada mais irônico do que, esperar destes mesmos homens, um caloroso bate papo sobre filmes de Tarantino. Nem um entendimento maior sobre o porque Sharon Stone decidiu filmar “Instinto Selvagem 2” exigindo mais cenas de sexo, assim que leu o roteiro. Eles não fazem idéia de como funciona a cabeça da mulher depois dos quarenta.
Ou, longe do universo do cinema, eles nunca irão entender a complexidade da insatisfação, quando é a mulher que tem que decidir o que os dois farão no sábado à noite, durante todos os sábados à noite que virão pela frente. Salvo apenas pelo dia do casamento do primo mais velho, onde se deus quiser haverá muitos amigos de infância e whisky barato para o distrair. Além de vestidos horrorosos e madrinhas bregas para a distração dela.
Diante da realidade, Magnólia reflete sobre o mundo dos homens e suas variações entre mulher, futebol e amigos. Segmentos estes, que não ultrapassam o contexto da prorrogação da infância.
Os homens deveriam aposentar suas infâncias e levarem mais a sério aquela barba insistente que cresce, cada dia mais, em seus rostos medrosos.
As figurinhas reluzem enquanto Magnólia espera pelo telefonema do namorado. Talvez ele tenha ido até a banca. Melhor pensar no que irão fazer neste final de semana.