EUgoísmo;

Eu não dirijo. Nem o carro, nem a minha vida idiota.
Vou de carona no avião, no trem, no ônibus velho e sem glamour, cheio de suor.
Eu vou pingando junto, vou rabiscando o vidro com as unhas; imaginando um cenário colorido; debitando defeitos nas costas de estranhos sem vocação para ocuparem a minha vida de atriz-feliz.
O meu perfume incomoda a menina com cara de, quem a comeu não gostou nem um pouco.
Eu sei que ela detesta meu jeito de não estar nem aí.
Eu a imagino dizendo para o namorado que na próxima sexta vai sair com as primas dela, ele não; diz isso, fazendo uma careta esquisita, cheirando a perfume da avon.
Ela tem uma realidade paralela e eu só tenho a minha vocação para inventar novela de baixo escalão.
Entre uma frase e outra não ouço nada do que dizem e me pego numa seqüência de blá, blá, blá interminável, ao vivo, para mim mesma.
Há uma porrada de letras e vírgulas e falas que não se calam, vivendo dentro do meu ouvido; estourando o meu tímpano.
Dou uma baforada no cigarro. Um jeito cool de botar a banca e foder por dentro. Mas lá dentro pouco importa já que morta me restará apenas a chance de baixar em centro de umbanda renascer pomba-gira, ou sei lá o que.
Eu tenho sérios problemas em viver em paz, minhas manias têm a ver com sexo casual, compulsões psicológicas e relacionamentos mal resolvidos.
No meu umbigo é que o mundo gira, as ações ficam em alta e os problemas de saneamento básico aumentam.
Eu sustento meus fantasmas com ração de primeira. Eu dou bandeira.
Eu quero, e hoje era tudo que queria, o cd tocando baixinho, o copo de água fresca e o sorriso da boca que, um dia, quem sabe, talvez, seja minha.
Mas vou viver de tamborim, ao relento, em festivais gordurentos de comida chinesa meia boca.
Vou viver um comercial de cerveja, em que a gostosa é outra, e não eu.
E fim.