Magnólia: Vestígio;

Divirta-se.

quarta-feira, 10 de maio de 2006

Vestígio;

Ela busca inspiração nos lugares simples que guarda na memória.
Lembra da infância com saudade do primeiro brigadeiro.
Nunca mais terá a mesma felicidade em devorar um brigadeiro. Coisas assim deixam a vida um tanto amarga.
Ela volta mil vezes num momento de nostalgia.
Completaria todas as frases mesmo sem a existência da teoria de gestalt.
É coisa dela, tão particular quanto um sorriso que ninguém vê.
Desce a rua em passos rápidos, o perfume que vem dela, intimida os desavisados.
Ela poderia ser o que quisesse, ter o que desejasse, viver a vida de qualquer filme de Almodóvar.
Ela gosta de café caseiro, tapetes floridos e sapatos velhos. Ela gosta de andar de meia, de comprar gérbera, de colher a salsinha. Não tem jeito, é coisa dela, tão particular quanto um desejo que se diz em voz alta, mas escondido do mundo.
Ela não tem fé em nenhum santo, não reza o texto da nação.
Guardou alguns bilhetes do passado e mantém alguns retratos que ainda apertam seu coração.
Tem a pretensão de imaginar o futuro e a cor de alguns cômodos.
Ela vai morrer de amor mil vezes e soprar mil vezes palavras de desdém. Vai carregar a culpa que não é dela, os discursos que não pertencem a ela e alma de mais alguém.
Ela vai voltar, acender a luz, e dizer que está tudo bem. Vai fazer sorrir outros mil, se entregar para quem não reconhece o amor.
Mas isso é tão coisa dela, tão particular, que dizer não convém.

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