Quase um insulto;

Eu logo vi, pelo modelito calculado, cabelo escovado, e gloss “acabei-de-comer- frango-frito” nos lábios.
A garota-nem-queria-mesmo parece quase descolada, quase agradecida pelo corpinho meia boca, quase feliz pelas pernas que afinaram. As garotas quase-alguma-coisa fazem tipo, fazem lipo e ainda assim não se satisfazem. Eu ouço rock, samba-rock e funk de vez em quando. Vou a farmácia, ao supermercado e a locadora emprestar uns dvds. Eu vou estudar um meio de garantir o futuro, tornando-me uma boa funcionária, uma mega mãe e uma puta namorada. Eu vou para qualquer lugar, mas deus, eu não quero parecer isso ou aquilo outro.
E se o melhor que se pode conseguir da vida é não se importar com o julgamento alheio, então não vai ter jeito, é assim que vai ser.
Mas de que jeito?
Eu vejo a garota do frango e penso mil coisas. Namorado sem graça, amigas que falam demais, voz engasgada, calcinha grande. Eu critico.
Será que funcionaria se não ligarmos para o que os outros falam, mas falarmos bastante dos outros? Aí pode?
Não ligar a mínima para opinião significa necessariamente não mais opinar. Aí eu paro de escrever; paro de fazer publicidade, paro de tentar educar minha filha, paro de tentar abrir a cabeça do meu namorado quadrado e paro também de tentar arrumar uma vocação para o meu irmão mais novo. Paro por aqui.
Mas não sem antes afirmar que a garota quase-alguma coisa, é sim, uma tremenda baranga, apesar do modelito.
Bem, é a minha opinião.