Magnólia: bolero

Divirta-se.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

bolero

Ela estava linda com aquele vestido de seda soltinho. Sandália metalizada, pesada, pernas firmes. O cigarro ainda aceso e o corpo indefeso enviavam sinais de transgressão. Frente ao espelho, um pouco antes, pensou não ser o bastante aquela maquiagem de sempre, sempre a mesma boca, o mesmo tom. Depois pensou nas palavras. A profusão delas que sempre escapam quando os goles não conseguem suprir a inquietação. É preciso vestir a personagem, o que ela não sabe é separar quem é quem quando chega ao final.
Desejou ser sincera o bastante, desejou que as palavras fizessem sentido, deixou que falassem, seguiu o tempo todo ouvindo. Não foi o bastante. Pensava que aquele momento era a sua vida acontecendo, era inevitável tentar controlar o tempo, era impossível definir o que viria depois. Tentou parar de pensar e calcular cada gesto. Deixou que tudo escapasse, mesmo que por entre os dedos em um punho fechado.
Estava linda, e quando sorria luzes se acendiam ao redor. Sua graça era quase triste, sua força ainda era metade. Em seu contexto um tanto tenso e submisso, o que não era amor era saudade.

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